A Bem-Aventurada Clélia Merloni e a Misericórdia

A Misericórdia, nos escritos da Bem-Aventurada Clélia Merloni, é um tema que expressa um sentimento de dor e solidariedade com relação a alguém que sofre.

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A Misericórdia, nos escritos da Bem-Aventurada Clélia Merloni, Fundadora das Apóstolas do Sagrado Coração de Jesus, é um tema que expressa um sentimento de dor e solidariedade com relação a alguém que sofre uma tragédia pessoal ou que experimenta um grande sofrimento. 

"Misericórdia", palavra latina cujo significado etimológico é: "miseris cor dare", "dar o coração aos miseráveis, aos necessitados, aos que sofrem."

A Misericórdia é um amor “visceral”. O Salmo 86 repete quase ao pé da letra as palavras do Êxodo: “Deus bondoso e compassivo; lento para a ira, cheio de clemência e fidelidade”.

Na sua tradução da Bíblia para o latim, São Jerônimo optou por traduzir três conceitos hebreus com três termos que são quase sinônimos, derivados da palavra “misericórdia”: Ventre, entranhas, e seio materno; palavras estas utilizadas na Bíblia para falar de nascimento de uma criança. Descreve os sentimentos de uma mãe pelo ser que é literalmente carne da sua carne. “Pode uma mulher esquecer-se daquele que amamenta? Não ter ternura pelo fruto de suas entranhas? E mesmo que ela o esquecesse, eu não te esqueceria nunca”. Deus se enternece por nós como uma mãe quando pega o seu filho no colo, desejosa somente de amar, proteger, ajudar, pronta para doar tudo, inclusive a si mesma. Essa é a imagem que este termo sugere. Um amor, portanto, que se pode definir, no bom sentido, como "visceral". Um amor que sofre especialmente os esquecimentos, desprezos ou abandonos de seus filhos. É um amor que se compadece pela lamentável situação em que os filhos possam se encontrar com o passar dos anos e que não cessa em seus desejos de recuperá-los se os vê afastados. É um amor que nos ensina a preocupar-nos pelos outros, a sofrer com os seus sofrimentos e a alegrar-nos com suas alegrias. A estar realmente próximos de quem nos rodeia, com a nossa oração, interesse, presença. Em resumo, dando o nosso tempo.

Conclusões espirituais

Quando meditamos os evangelhos é possível descobrir as características de Deus – entre elas, e de modo eminente, a sua misericórdia – plasmadas na simplicidade das palavras e da vida de Jesus que é o rosto da misericórdia do Pai. “O que era desde o princípio, o que temos ouvido, o que temos visto com os nossos olhos, o que temos contemplado e as nossas mãos têm apalpado no tocante ao Verbo da vida...” Essas palavras vibrantes do apóstolo a quem Jesus amava chegam até nós com a mesma força com que foram escritas. Em Jesus, o apóstolo viu e tocou o amor de Deus coisa que todos os cristãos podemos fazer, “para que nossa alegria seja completa”.

Jesus Cristo “é a misericórdia divina em pessoa: encontrar Cristo significa encontrar a misericórdia de Deus”. Por isso, não nos cansemos de saborear as cenas comoventes em que o Mestre atua com gestos divinos e humanos ou relata com modos de dizer humanos e divinos a história sublime do perdão, do Amor ininterrupto que tem pelos seus filhos como o Bom Samaritano, o Pai que recebe de volta o filho que gastou sua fortuna, o pastor que vai em busca da ovelha desgarrada ou ainda a mulher que varre a casa para procurar a moeda perdida.

Como orar com Madre Clélia

As orações que seguem são tiradas do Diário da Madre escrito no tempo em que ela estava exilada e vivendo na mais profunda dor pela separação do seu amado Instituto e das suas filhas. Era em Deus que ela buscava força e conforto. Suas orações nos mostram uma pessoa que confiava plenamente na força de Deus e implorava do Coração de Jesus a Sua divina Misericórdia. Nas orações que ela faz revela a confiança ilimitada do Divino Coração de Jesus, seu TUDO.

“Meu querido Jesus, Vós quereis, que eu, ao invés de me lamentar diante dos meus sofrimentos, mesmo os longos e doloridos, e de me entregar à inquietude, aos lamentos e murmurações, pelo contrário, louve a vossa infinita misericórdia”.

“Logo que acordei, eu me lancei sobre o Crucifixo que tenho preso no travesseiro e, com intensidade e afeto, beijei-o muitas vezes, com a Jaculatória: Jesus meu, misericórdia para mim, para minhas filhas e para todos os pecadores do mundo inteiro!”  

“Obrigada, ó meu Deus, por tanta bondade e misericórdia usada para comigo. Dai-me força, ó Jesus, e eu vos prometo domar as minhas paixões, principalmente o orgulho, de submetê-las à minha razão ou vontade superior, de estar bem atenta contra o orgulho, começando a combater a ele e aos seus vis escravos. Cuidarei para não cair na cilada desse perigosíssimo inimigo, que pode tramar um golpe mortal contra mim. Com cuidado vigiarei para reprimi-lo com prontidão e energia, para poder vencê-lo. Faze, ó meu bom Jesus, que eu tenha sempre uma ilimitada confiança no teu Divino Coração, porque eu sei que a confiança é a chave que abre os tesouros da tua infinita Misericórdia”.

“Meu Deus, grandeza infinita, eu, pequeno átomo de miséria, do abismo profundo do meu verdadeiro nada, ofereço-me, consagro-me, abandono-me totalmente a Ti. Confesso, ó meu Deus e reconheço que Tu és aquilo que és; és infinitamente grande, infinitamente poderoso, bom, perfeito em todos os teus Divinos Atributos; e eu sou aquela que não sou, isto é, um nada e uma miséria pecaminosa. Grande Deus da Misericórdia”.

Rezemos nós também: "Ó Deus de grande Misericórdia e bondade infinita, eis que hoje a humanidade toda clama do abismo da sua miséria a Vossa Misericórdia. Senhor, bondade inconcebível, que conheceis profundamente a nossa miséria e sabeis que com nossas forças não temos condições de nos elevar até Vós, por isso vos suplicamos, adiantai-vos ao nosso pedido com a Vossa graça e multiplicai em nós sem cessar a Vossa Misericórdia, para que possamos cumprir sempre a Vossa Santa Vontade. Que o poder da Vossa Misericórdia nos defenda dos ataques dos inimigos da nossa salvação. Isto vos pedimos por meio do Coração Misericordioso de Jesus Cristo nosso Salvador e Redentor. Amém. 


Ir. Maria Josefina Suzin, ascj